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segunda-feira, 14 de março de 2016

Relato de uma Co-dependente

Recebi o relato abaixo, e fui autorizada a compartilhar.

" Oi. 

Ele não é adicto. Adicta sou eu. E a minha droga é ele.

O relacionamento está para mim, como a droga está para um adicto.

No início, quando estou conhecendo, é tudo muito leve e satisfatório. 
O envolvimento ainda é superficial.

Mas, conforme a relação vai ficando estreita e intensa, eu vou sentindo cada vez mais necessidade de estar com; de saber notícias; de ter algum contato.

É uma necessidade insuportável que me deixa completamente desorganizada.

O que era prazeroso no inicio, torna-se angustiante.

Enquanto estamos em contato, o prazer é imenso, mas com a despedida o vazio vem e toma conta. E, a partir desse momento, só consigo pensar nele e no que fazer para ter o momento de volta, e nada posso fazer... então, fico a esperar angustiosamente o próximo momento.

O pensamento fica em torno disso.
A angústia oscila. E todo o resto perde o sentido.

Por ter consciência de minha doença, consigo me controlar e segurar sozinha, sem permitir que minha insanidade o alcance.

E isso me enlouquece mais ainda...

E é isso. Consigo fazer do relacionamento a minha droga e a minha vida vira um inferno.

A programação me ajudou muito, mas ainda tenho muito a melhorar.

Obrigada por me ler." 


sábado, 24 de maio de 2014

Diante de um adicto

Depois de alguns anos, “afastada” da realidade e convivência com a adicção, passei por uma experiência que, embora tenha me abalado, também mostrou que estou evoluindo na prática do desligamento.

Aconteceu no âmbito de trabalho.
Tive que lidar com uma situação de delito, ocorrida nas dependências de um cliente por um funcionário recém-contratado e em experiência.
Nesses vintes dias, até ocorrer o episódio, já tinham acontecido diversas situações de atraso e escassez de dinheiro.

Comportamentos um tanto quanto “estranhos” para um período de experiência que, somados a aparência e estado físico demonstravam claramente que havia algo errado.

Era um candidato promissor! Possuía todas as qualidades esperadas para o perfil – e essa expectativa velava os indicadores negativos.

Enfim, o episódio veio à tona. As cenas estavam gravadas e com elas as cortinas se abriram.
Estava lá eu, diante de um adicto, recém contratado e que tinha tudo para continuar na empresa.

Primeiro passo – liguei para o cliente para esclarecer e amenizar o episódio.
Em paralelo, todas as ações para localizar o envolvido.
O cliente surpreendeu a todos. Manteve as coisas separadas o que não afetou em nossas relações comerciais e ainda “deu uma lição de vida” para o nosso envolvido.

Segundo passo – resolver a relação do envolvido com a empresa.

A primeira parte era complicada por envolver relações com terceiros e aspectos financeiros. Mas era racional. Bastava usar de inteligência, comunicação, busca da compreensão (e fui muito felizarda) e assim, tudo se resolveu.

Esta segunda parte dependia de um equilíbrio entre o racional e o emocional.
E foi um teste para mim.

Desliguei o funcionário, sem abrir mão da entrevista de desligamento.
Fechei uma porta para ele – no meu papel profissional, não podia ser diferente.
Mas abri outra.
Conversei abertamente sobre a adicção, sobre a história de vida dele (pessoal e profissional que já conhecia) e fiz um paralelo entre as duas.
Não o julguei e nem o condenei e nem me compete isso.
Apenas apontei o caminho que ele está, e os caminhos que ele pode escolher.
Apresentei a programação dos doze passos
E me coloquei a disposição (pessoal), se e quando houvesse interesse e disponibilidade

Durante essa entrevista o conflito era gritante.
A vontade era de “pegar no colo” mesmo sabendo que esse não era meu papel e nem minha responsabilidade.
Consegui me superar.
Consegui deixá-lo ir sem me sentir abandonando-o.

Foi a primeira vez que me vi praticando o desligamento com amor, da forma como tenho lido esses anos todos.
Ficou um “pesar” de culpa – de “podia ter feito algo” (mesmo sabendo que não cabe)
Mas, ao mesmo tempo, ficou o alívio de que “essa responsabilidade não é minha”.

Nesse dia, fiquei meio esvaziada, sem energia.
Mas uma boa noite de sono, e acordei bem!!

E continuo bem, só por hoje!

sábado, 16 de novembro de 2013

Cura X Recuperação


Quando falamos de situações relacionadas à programação dos doze passos (adicção, alcoolismo, codependencia) sempre pensamos na cura ou na recuperação.

Mas o que ouvimos é que, nestas situações, não há cura, mas recuperação.
E em todas essas situações, as recaídas acontecem e, por isso, a recuperação é permanente.

Pesquisando os termos, encontrei para “cura” Recuperação da saúde; Solução para algo.
E para “recuperação’, Readquirir o perdido; Continuar depois de um intervalo.
in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt [consultado em 16-11-2013].

Nas definições acima, poderia supor que ambas se encaixam no que buscamos para essas situações.
A diferença, é que cura supõe solução, finalização. E este é o problema.
Nestas situações, não há esta finalização.
Em todas elas, estaremos buscando estar bem, um dia de cada vez.

Gostei muito da definição dada por Bernie S. Siegel, em “Paz, Amor e Cura”:
Ele faz a distinção entre recuperação e cura – “recuperado” é o estado que abrange a existência da pessoa; “curado” diz respeito apenas ao seu estado físico.

Mas não é só essa distinção que me agrada. Outras falas dele são de extrema importância:
“Os pacientes querem ser vistos como pessoas.”
“A vida da pessoa vem em primeiro lugar; a doença é apenas um aspecto dela.”
“A doença é mais do que apenas uma entidade clínica; é uma experiência e uma metáfora, com uma mensagem que precisa ser ouvida. Muitas vezes a mensagem nos mostra o caminho, e como nos desviamos dele...”

Por fim, todos que pertencem a uma programação de doze passos, sofrem de uma doença, não de um dilema moral. O problema é que estão criticamente doentes e não são desesperadamente maus.

Abaixo, o texto não é meu, mas acredito que pode ser aplicado a qualquer um de nós que praticamos os doze passos:


“Por que é que nos sentíamos sempre sozinhos, mesmo no meio de uma multidão?
Por que é que fizemos tantas coisas loucas e autodestrutivas?
Por que é que passávamos o tempo a sentir-nos mal conosco próprios?
E como é que as nossas vidas se tornaram tão complicadas?
Nós achávamos que éramos desesperadamente maus, ou talvez desesperadamente insanos.
Foi assim um grande alívio vermos que sofríamos de uma doença, que podia ser tratada. E quando tratamos a nossa doença, podemos começar a recuperar. Hoje, quando vemos sintomas da nossa doença a virem à superfície nas nossas vidas, não precisamos nos desesperar.
Afinal de contas temos uma doença tratável, e não um dilema moral.
Podemos estar gratos por podermos recuperar da doença através da aplicação dos Doze Passos. 

Só por hoje: Estou grato por ter uma doença tratável, e não um dilema moral. Vou continuar a aplicar o tratamento para a doença ao praticar o programa.”

domingo, 14 de abril de 2013

Desligamento


Como distanciar-se e desligar-se daquele que se ama?

Essa é uma das maiores dificuldades de uma mãe/pai, marido/mulher, irmão/Irma – na relação com uma pessoa vítima da adicção.

Desapego requer prática. Precisa-se apenas continuar tentando. É tudo o que se pode fazer.
Eu sei, é muito mais fácil dizer do que fazer!
Manter a distância emocional e não esperar nada, na maioria das vezes é simplesmente muito difícil.

Não se pode simplesmente ligar e desligar o corpo. É necessário ajustar com o tempo e a experiência.

O desapego não pode ser falsificado.
Isso acontece lentamente, à medida que se aprende mais e mais sobre como ser impotente diante de qualquer pessoa ou situação externa a nós mesmos.
Acontece quando se obtém maior serenidade em nossas próprias vidas.
Quando se reconhece que não estamos ligados simbioticamente a ninguém e a nada.
Trata-se de reconhecer o direito do outro de tomar suas próprias decisões, quer gostemos ou não.
O desapego se faz quando se compreende plenamente que nossas obsessões estão nos prejudicando.

Não se trata de não se importar. Trata-se apenas de ter consciência que não se pode controlar o que os outros fazem.
Pois Tentar mudar alguém é um exercício extremamente frustrante e exaustivo.
Com o desligamento aprendemos a cuidar de nós mesmos em primeiro lugar, assim podemos ter uma visão melhor sobre o que podemos e o que não podemos fazer.
Não é que nós não podemos fazer nada, é que tentar empurrar as coisas, não funciona.

É irônico, mas amar qualquer pessoa envolve permitir que esta pessoa cometa seus próprios erros e assuma a responsabilidade por eles. 
Se o outro decide por destruir-se, não podemos deixar que isso nos destrua. E eu sei, é difícil de assistir.
Isso não significa que nós aprovamos, significa apenas que nós entendemos que o outro pode não saber como fazer algo diferente do que está fazendo.

Cada um tem de trilhar seu próprio caminho.
Pisar no caminho do outro, tentar pegá-lo ou levá-lo no colo, é inútil para ambos.
O outro precisa experimentar a dor dos seus atos - assim como nós.
A questão é que não podemos ajudar alguém que não está pronto para ajudar a si mesmo.
E manter em mente os 3 C's é fundamental nessa prática - Eu não Causei, não posso Controlar e não posso Curar.
Perceber-se impotente sem sentir-se desamparado.

O programa doze Passos é uma programação individual para cada um de nós, e não para o outro.
O passo dois fala sobre acreditar que um poder maior do que eu possa restaurar-me à sanidade. Não a do outro, mas a minha.
Por isso, devemos colocar-nos, nós mesmos e o outro, aos cuidados de algo maior que todos nós.
Esses três primeiros passos mantém nossa sanidade.
E assim, aprendemos a lidar com a dificuldade e a cuidar de nossa própria vida.
E aprendemos que o outro tem o direito de fazer suas próprias escolhas. Porque é a sua decisão, não a nossa.
.
E essas são apenas algumas idéias de como o desligamento acontece, em minha opinião.
E como diz nossa programação, pegue o que for importante, e deixe o resto.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Pelo amor ou... pela dor!


Simplesmente incrível como alguns acontecimentos ocorrem em nossa vida.
Semana passada eu estava naquele período feminino extremamente sensível. E estava muito, mas muito triste. Nesses períodos que não temos como justificar motivos, simplesmente ficamos.

E movida por este sentimento de tristeza, comecei a me questionar sobre continuar indo ou não ao grupo.
Inicialmente, procuramos o grupo por termos um motivo – uma adicção próxima.
Mas depois, descobrimos que continuamos voltando por nós mesmos, porque nos faz bem em todos os sentidos.

Na última terça, pensava – se para ingressar no grupo, tenho que ser amiga ou parente de um adicto... por que devo continuar indo, se não tenho mais esse pré-requisito???

O fato, é que fiquei tão angustiada com esse pensamento, que acelerei meus movimentos e me prontifiquei a ir, mais cedo que o normal.

E foi incrível!
A primeira leitura foi o de 27 de novembro do CEFE (essa data, por si só, já tem um significado todo especial). Essa leitura narra o depoimento de como um membro foi “tocado” a ir pela primeira vez ao grupo. Tirando alguns poucos detalhes, era minha história. Era a história de “ser movida pelo Poder Superior”. Parecia um reforço na minha lembrança do porque procurei o Naranon.

Partilhei sobre meus sentimentos sobre sentir-me um peixe fora d’agua no grupo. E tive respostas sobre isso.

A segunda leitura – do Livreto Historias de Recuperação – “Criticas”- me fez chorar pela primeira vez, no grupo. E pela primeira vez, senti que falei com a alma.
O texto discorre sobre o significado do ato de criticar relacionado ao fato de estarmos evitando entrar em contato conosco.

Senti uma dor imensa ao mergulhar em minhas lembranças.
Lembrei que se eu tivesse conseguido apenas “amar” e “desligar a pessoa da doença” muitas das criticas e atitudes que tive, não teriam acontecido.
E partilhei, que meu ato de criticar, nada mais era que uma forma de extravasar a raiva que eu sentia por tudo que acontecia. A intenção da crítica era transferir p/ o outro o quanto pequena eu me sentia. Mas eu conclui, nesse dia, que fazendo isso, alem de conseguir diminuir o outro, eu conseguia apenas diminuir a mim mesma...

Nesse dia, estavam seis recém-chegados. Eu olhei para cada um deles e disse: É importante aprender a amar e se desligar com amor, pois corremos o risco de descobrir, tarde demais, o quanto amamos essa pessoa, independente de sua doença.

Voltei para casa chorando.
Sabia que mais uma vez, tinha voltado ao grupo, movida pelo poder superior.
E voltei consciente, que aquele meu sentimento de tristeza, de questionar ir ou não ao grupo, tinha apenas um significado –

domeumundoparticular.blogspot.com
Eu precisava daquela reunião porque estava elaborando a perda.
E estava de luto.
E consciente que, mais uma vez, deixei de aprender pelo amor, para aprender com a dor.

E assim, dando um passo de cada vez, vou descobrindo minhas coisas, e vou aprendendo a lidar com elas... com amor... e com a dor...

e vivendo... um dia de cada vez...

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Carta aberta para um adolescente - II

Em 17 de dezembro de 1986 - as 16:55hs 
Eu só tinha 19 anos.
E escrevi essa carta para o mesmo adolescente referido no outro post.
Eu ainda não sabia de seu envolvimento com drogas... tive certeza um mês depois.
Mas algo me incomodava. 
E eu por amá-lo, queria arrancar esse incomodo (que era meu). 
Hoje sei que isso se traduz em:

  • "querer modificar o outro", 
  • "não deixar o outro fazer suas escolhas".


Eis...
Especialmente para um amigo...

Nada lhe importa?
Qual o significado desse sorriso
onde não há alegria? 
_ só frieza
O que diz esse olhar cheio de mistérios
_ onde só vejo tristeza.

Quero ser sua amiga
Por que me proíbe?
Mantém-se o tempo todo
num mundo indiferente, distante
Levanta muralhas ao seu redor
impedindo a minha passagem

Queria eu, quebrar essa muralha
para chegar até você
Queria eu, mostrar-lhe 
que, no fundo das coisas más encontra-se algo de bom
Queria eu, mostrar-lhe 
que no mais triste dos sorrisos encontra-se um fundo de alegria
e que, por mais só que você pense estar
alguém te observa bem próximo
Alguém que te Adora!!


Era assim que eu o via - triste - isolado - solitário  
e eu queria, de toda forma, tirar isso dele. 
Todo o meu amor. 
Todo o meu carinho.
E toda a minha preocupação. 
Nada disso resolveu.
Ele não me ouviu.
Não se modificou.
E continuou, cada vez mais, mergulhado no sub mundo das drogas.
e, por isso, veio a falecer em 1995 - com 20 e poucos anos.
Nessa época, eu já tinha desistido dele.
Soube de sua morte distante.
Sofri de longe.

Cada um de nós temos o poder e o livre arbítrio de fazer nossas próprias escolhas e seguir nossos caminhos.
O fato de amarmos alguém, não nos dá o direito de querer modificá-lo.
Ele, fez a escolha dele. Não está mais, entre nós.
Eu, fiz a minha. E fiquei distante dele.

Hoje... só tenho a recordação de como ele era bom.
E continuo não compreendendo o que faz uma pessoa fazer uma escolha dessa natureza.

Hoje eu sei "que só posso modificar a mim mesma. Aos outros, eu só posso amar."









segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Carta aberta para um adolescente


Ninguém usa porque gosta!
Ou por solidão, tristeza, amargura,
ou por desespero, problemas,
ou até mesmo por seguir um outro que usa

Não faz bem.
Você se acostuma com a idéia que fica feliz, mas não fica.
Você perde o seu verdadeiro "eu"
e assume um novo caráter que está longe de ser o seu.

Maltrata a si próprio e aos que o ama
Torna-se egoísta, ao procurar dessa forma, apenas a sua felicidade
esquecendo que os outros também querem ser felizes
e não o são por sua causa
porque a sua vida tem "algum" significado para "alguem"

Você perde o seu raciocínio lógico
e faz com que "esse alguém" fique atordoado.

Consegue compreender?
ou é necessário que te implorem para parar de "tentar"ser feliz
e o seja naturalmente.

Tornou-se natural ver pessoas que "tentam"ser felizes,
mas quando essas pessoas ficam próximas e deixam de ser qualquer um
torna-se difícil observar como um mero espectador.

Percebe que você não é qualquer pessoa?
Você é ALGUÉM que "tentando"ser feliz destrói a felicidade dos que o ama.
 Seja feliz! Sem "tentar". Apenas seja!

Escrita em 30/01/1987 por mim para um adolescente de 15anos (identidade preservada)
Hoje, 25 anos depois, sei que é uma pedido em vão.
Sei que a adicção é uma doença e que não se pede para um adicto mudar suas escolhas, pois além de não funcionar, tende a piorar.
Hoje eu trocaria o "tentar ser feliz" por "busca de prazer" - que na verdade, não muda o sentido do que eu pretendia dizer.
Hoje eu sei, que aqueles que amam um adicto, se não são felizes, é porque também sofrem de uma doença - dependência emocional, co-dependência...
Hoje, conhecendo a oração da serenidade, sei que existem coisas que não posso modificar (as escolhas do outro) e outras, que posso modificar (as minhas escolhas) .
E com essa carta aberta, refletida hoje, me flagro pensando em escrever sobre o primeiro passo "admitimos que éramos impotentes..." e não quero me restringir a um grupo específico, pois ao estudar os 12 passos, percebo uma amplitude da idéias para todas as esferas da vida.
Pedro Moraes Victor Filho - Consultor em dependência - retrata bem essa amplitude em http://adroga.casadia.org/recuperacao/12_passos_na_recuperacao.htm quando diz: "Admitimos que éramos impotentes perante o álcool/ adicção/ pessoas, que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas."

Assim, fecho a iniciação do primeiro passo, interpretando a mensagem de Pedro M. V. Filho, de que somos impotentes diante de tudo que esteja fora de nós e que nosso único controle está em nós, sobre nós mesmos.